sábado, 30 de janeiro de 2010

Ilha Solteira

O vento e a árvore falavam comigo a sua linguagem muda...
Eu entendia.
Entendia porque naquele momento o pensamento era o sentir. E eu sentia.
Sentia o elo invísivel e comungava com ele. Me permitia.
E todas as cores se faziam vida; e tudo o que se fazia segredo revelava-se enfim.
Os medos, os sonhos, a vida...
A redundância do nome explícita o valor da solidão e a supremacia da união.
Há também beleza e brilho no escuro
Há também desgraça e escuridão no sol
E nem por isso, tanto um, nem outro deixam de cumprir seus ofícios
O interior se externalizava então sem as garras do pudor, sem as grades do padrão e sem o vão do amanhã
E tudo era belo, até mesmo a ausência; até mesmo a perda...
E tudo intenso, todos os elementos unidos por uma só linha, a da minha vida.
O vento, o fogo, a água e a terra
O vento me guiando;
o fogo me iluminando;
a água me purificando;
a terra me segurando...
Eu abraçava tudo; e era amor, era a existência transbordando energia. Era magia.
Era a imensidão do som...

Que novos caminhos se abrão, Abraão!

sábado, 23 de janeiro de 2010

Pelas apostilas nossa de cada dia....

"Quem descerrar a cortina
Da vida da bailarina
Há de ver cheio de horror
Que no fundo do seu peito
Abriga um sonho desfeito
Ou a desgraça de um amor
Os que compram o desejo
Pagando amor a varejo
Vão falando sem saber
Que ela é forçada a enganar
Não vivendo pra dançar
Mas dançando pra viver"
(Américo Seixas, Dorival Silva)
Vida de Bailarina- Elis Regina



Dança, canta, declama, pequena grande!
Põe teu nariz de palhaço e enfrenta o mundo que nos faz de paiaços...Enfrenta! Que o mundo é grande e pequeno.
Pequeno para seus medos, grande para seus sonhos! E há de cabê-los no mundo.
No mundo cabe tanta coisa! Até eu e você, que achavámos que nunca caberíamos.
Nós, que achavámos tanta, tanta coisa vã....
Não se ocupe de pequenas coisas; pois teus propósitos são maiores, tua luz é mais forte e teu potencial ilimitado...
Vai, pequena grande, que o mundo anseia por te ouvir.
Há tantas trevas no mundo... E eu sei, sei que teus talentos podem devolver ouvidos, olhos e sentidos para nós.
Sei o quanto você sabe de mim, da vida, da nossa gente sofrida, da nossa gente querida.
Mas saberás tu, de ti?
Sabes o brilho que emana de tua alma?
Sabes o acalento que transcende tua voz?
Sabes a força que seguras no punho?
Sabes do mundo que carrega nos ombros?
Não te assustes!
O mundo é grande e pequeno e não pesa mais do que a mão de uma criança!
Não te rendas ao medo! NUNCA!
Não é sem medo que o leão garante o seu trono....
Mas, alerta!
Que seja sempre, humilde a sua valentia...
repara que há veludo nos ursos.
E você, felina, leoa, gaivota...hás ainda de compreender o reino animal que habita em ti. Porque o reino humano que vigora em nós, ainda é vago, confuso e ilusório, como a vida...
Guia-te por teus instintos..
Renda-se ao desconhecido, como o bebê que tenta sempre dar o primeiro passo.
Aprenda com o reino infantil. As crianças sabem como alimentar os sonhos.É instinto, é coragem, é um não-saber repleto do mais puro conhecimento.
Renda-se à você!
Submeta-se, como Pessoas, que cansado de ser triste, decide por fim, estar alegre!
Não se renda à ilusão que a existência humana exige: a felicidade limita-se à estar, ao instante.
O verbo ser implica constância, e este é um talento não permitido para ti, nem para mim, nem para muitos.
Renda-se ao acaso, ao instante, ao momento, ao inconstante...
Renda-se!
Sem pudores
nem temores
nem teores...
Siga a tempestade que inunda seu abrigo! Porque se você demorar muito, ela pode te causar uma inundação de sentimentos, e mesmo sem querer, você pode acabar por se afogar...
Escute teu pequeno príncipe...
Arranque os baobás assim que o perceberes com clareza; e saiba que o tempo é sempre justo!
E quando por fim, estiveres triste, mas triste de não ter mais jeito
Cante, grite, espante, dance!
Que seja pela maresia,
que seja pela lisergia,
que seja pela rebeldia.
que seja pela apostila de 15 folhas...
Declame, que este é seu recanto para se conseguir viver!
E viver...
Pode ser uma delícia!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O mundo é grande e pequeno;
O tempo, rápido e lento...
Na verdade, nada é o que parece ser...
A tristeza é doce e amarga;
A felicidade, repleta e vaga...
Na verdade, nada é o que parece ser...
O vazio é o nada e o tudo;
O caos é divino e absurdo...
Na verdade, nada é o que parece ser...
A mesmisse...
A caretisse...
O meu tédio, sem remédio;
O meu vício, sem juízo;
Na verdade...
Nada é o que parece ser!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

multiplicidade

Essa mulher
(Joyce e Ana Terra)
Elis Regina

" De manhã cedo, essa senhora se conforma
Bota a mesa, tira o pó, lava a roupa, seca os olhos
Ah. como essa santa não se esquece de pedir pelas mulheres
Pelos filhos, pelo pão
Depois sorri, meio sem graça
E abraça aquele homem, aquele mundo
Que a faz, assim, feliz
De tardezinha, essa menina se namora
Se enfeita, se decora, sabe tudo, não faz mal
Ah, como essa coisa é tão bonita
Ser cantora, ser artista
Isso tudo é muito bom
E chora tanto de prazer e de agonia
De algum dia, qualquer dia
Entender de ser feliz
De madrugada, essa mulher faz tanto estrago
Tira a roupa, faz a cama, vira a mesa, seca o bar
Ah, como essa louca se esquece
Quanto os homens enlouquece
Nessa boca, nesse chão
Depois, parece que acha graça
E agradece ao destino aquilo tudo
Que a faz tão infeliz
Essa menina, essa mulher, essa senhora
Em que esbarro toda hora
No espelho casual
É feita de sombra e tanta luz
De tanta lama e tanta cruz
Que acha tudo natural."



Vamos lá Alice, que tá dificil de sair do país dos espelhos....

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

instinto felino

é no escuro que a alma brilha mais...
Gato noturno
Soturno medo
arisco, mestiço,
arrisco!
Seu jogo felino de amor
Sua garra lasciva de dor
Seu punho cortado de dor
Seu medo transbordado em calor...

Quereres

'Quisera eu construir uma ruína, sabendo mesmo que a ruína é desconstrução'
Quisera enão, desconstruir uma ruína, para ver se assim eu construo um coração...

Quisera eu abrigar o abandono, sabendo mesmo que o abandono é o desabrigo
Quisera então, desabrigar o abandono para ver se assim eu abrigo algo colorido...

Quisera eu me apegar ao amor, sabendo mesmo que o amor é desapego
Quisera então, desapegar-me do amor para ver se assim eu consigo amar direito...

Quisera eu silenciar minha loucura, sabendo mesmo que a loucura ta na grito
Quisera então poder berrar tudo que sinto para ver se assim eu me dou algum auxílio...

Quisera eu, por fim, organizar a minha vida, sabendo mesmo, de repente que a vida se organize na desorganização
Quisera então desorganizar minha rotina para ver se assim eu alcanço a sublimação...

Viva à Manoel de Barros!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

a ostra e o vento

Disse-me então: 'passaria o resto da minha vida com você, assim, desse jeito...'
Fiquei muda...como sempre...
não sei se meu pensamento corre ou se vivo mesmo é no vazio, o fato é: fiquei muda.
Queria mesmo é poder te dizer: esquece, eu nunca fui presa fácil...
Eu, na minha ilusória pretensão de ser o vento, não me amarro.
As raízes que eu conheço são apenas as que consigo plantar no meu quintal; porém, em minha alma, o terreno nunca foi fecundo para tais.
Eu vagueio. Você ainda não percebeu?
Do vento, nada se prende, apenas se apreende.
Espero pois, que ao menos, você tenha conseguido apreender a minha brisa, assim mesmo no incerto, tal como eu, incerta de quem sou, do quanto sou...
Não sei se sou alegre..
Não sei se sou triste...
No momento, mal sei se existo.
Ando ausente, eu sei, e acredite, tanto mais para mim.
Em algum fio da meada da vida eu me perdi...de mim, de ti, do mundo...
Mesmo tantos, todos os pronomes são eu, e meus...
Pode ser umbigo, egoísmo, egocentrismo...ou medo, por mais que eu não reconheça.
Acontece que antes de se construir a gente têm que se descobrir, e minha incontestável inconstância inconsciente costuma confundir-me...

No mais, não se preocupe comigo, na minha ladeira da preguiça eu vou mesmo é devagar.
'Alguém me avisou pra pisar nesse chão devargazinho';
é simples: pouco a pouco eu me abandonei para vagar mesmo, sem eira e nem beira,~caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento, eu vou...
E de encontros, desencontros, reencontros a gente vai tentando enfim, completar esta imcompletude que nos atormenta, até conseguir dar à ela o doce saber de ser vida

Se deixe ao tempo, que eu...
vou carregar-me ao vento...
enquanto isso, passa a bola ,rapaz; que é muito bom pra ficar pensando melhor...

"Meu namorado erradio, sai de déu em déu a me buscar
Pai, olha que o tempo vira, pai
Me deixe carregar o vento..." (Chico Buarque)

domingo, 3 de janeiro de 2010

Faça, force, fuce!

Quando a cabeça tá um caos e as palavras embaralhadas, naufragando em alto mar, o jeito é pegar a voz emprestada daqueles que nos dão esperança (calma menina, não é só você que está jogada à roda viva); porque nem todos tem consciência para ter coragem e muitos não tem a força de saberem que existem...


"Faça, Fuce, Force
Raul Seixas

Faça, Fuce, Force
Mas!
Não fique na fossa
Faça, Fuce, Force
Mas!
Não chore na porta...
Faça, Fuce, Force
Vá!
Derrube essa porta
Trace, Fuce, Force
Vá!
Que essa chave é torta...

-"Os meus fantasmas
São incríveis
Fantásticos, extraordinários
Se fantasiam de Al Capone
Nas noites que tenho medo
De gangsters
Abusam de minha
Tendência mística
Sempre que possível
Os meus fantasmas tornaram
Minha solidão em vício

E minha solução
Em Status Quo
Ai! Meu Deus do Céu!"

Faça, Fuce, Force
Mas!
Não fique na fossa
Faça, Fuce, Force
Mas!
Não chore na porta
Faça, Fuce, Force
Vá!
Derrube essa porta
Trace, Fuce, Force
Vá!
Que essa chave é torta...

-"Feliz por saber
Que só sei, que não sei
Q quem sabe não fala, não diz

Vida, alguma coisa acontece
Morte, alguma coisa
Pode acontecer
Que o mel é doce
É coisa que eu
Me nego afirmar
Mas que parece doce
Isso eu afirmo plenamente"

Faça, Fuce, Force
Mas!
Não fique na fossa
Faça, Fuce, Force
Mas!
Não chore na porta
Faça, Fuce, Force
Vá!
Derrube esta porta
Trace, Fuce, Force
Vá!
Que essa chave é torta..."

Mesmo torta, pra fechar com chave de ouro, Drummond:
mas há que tentar o diálogo, quando a solidão é vicío....